5 de abril de 2016

Eu li #57 - Eu sou o Livreiro de Cabul

Oi gente!

Lembram que uma de minhas leituras (intensas!) de fevereiro foi "O Livreiro de Cabul", de autoria da jornalista norueguesa Asne Seierstad? Fiz a resenha nessa postagem aqui. Também devem lembrar que comentei existir uma "resposta" ao livro, do próprio livreiro, Shah Muhammad Rais, que sentiu-se ofendido e injustiçado pelos comentários sobre sua família divulgados para o mundo inteiro.

No livro de Asne, o protagonista, embora seja definido como um livre pensador, se mostra no decorrer da narrativa um homem preso às tradições e costumes de um país devastado pela guerra. Impossível não angustiar-se com as histórias envolvendo o papel da mulher e sua presença silenciosa na sociedade afegã. Evidentemente, o livro é escrito pelo olhar ocidental da autora, que nasceu e cresceu em um país desenvolvido, embora o enredo baseie-se nos relatos que ouviu enquanto hóspede do livreiro. Pois bem. Além de processar a autora, ele publicou um livro com a sua versão da história. E eu me senti na obrigação de ler porque acredito que em um conflito, cada lado tem sua verdade.



Nota-se logo de início que o livro tem um propósito único de contradizer o relato de Asne em seu livro. O autor usa de personagens lendários da Noruega, os "trolls", para simular um julgamento aonde ele teria oportunidade de defender sua causa. Ok, eu gosto de personagens lendários. Mas na minha opinião, um depoimento verídico, ao invés de usar o folclore para contar sua história, não passaria tanta ironia e ressentimento. Mas é assim que ele segue, contando aos trolls como ele julgava equivocados os relatos do livro de Asne.

Trolls noruegueses - via jeremyvarner.com

Com o passar das páginas, que não são muitas (o livro tem menos de 100 páginas), o livreiro narra seus encontros com os trolls, onde deixou seu descontetamento com o relato de Asne para o mundo. Segundo ele, ela ocasionou problemas irreparáveis para sua família com a exposição. Ele a define como ingrata, já que ele e sua família a receberam em sua casa e ela, aparentemente, deturpou tudo que aprendeu com ele e seus costumes. Um argumento que me tocou foi de que Asne o critica por fazer seu filho trabalhar integralmente em sua livraria, sem estudar. Ele justifica que no tempo em que ela esteve hospedada lá a escola estava fechada e, segundo ele, onde seria o melhor lugar para um pai deixar seu filho, em um país que não possuía mais parques, nem praças, nem bibliotecas, pois tudo havia sido destruído pela guerra? Ele estaria mais tranquilo deixando seu filho na rua, arriscando pisar em uma mina e ter parte do seu corpo estraçalhado, como acontece com muitas crianças?

E foi então que, ainda que conhecendo os dois lados, ficou a curiosidade em saber com quem realmente está a verdade. Mas isso me levou a uma certeza que sempre tive. De que cada um tem a sua verdade, a sua opinião, a sua versão. E o melhor a fazer é sempre estar à disposição para conhecer todos os lados, pois é o melhor caminho para aprendermos sobre o mundo, sobre o próximo e sobre nós mesmos. 

Eu recomendo a leitura dos dois, na minha opinião um se tornou leitura obrigatória do outro. =)

Beijos!

1 comentários:

Mali Pering disse...

Olá Ale! Ah, desculpa por não te visitar frequentemente...as vezes me perco nas coisas pra fazer e tenho que sair, daí acabo não visitando todas...
Seu blog é muito inteligente, cheio de informações e muitos livros! Gosto bastante!
Beijos