20 de maio de 2016

Eu li #68 - A Confissão de Lúcio

Oi gente!

Li "A Confissão de Lúcio", do autor Mário de Sá-Carneiro, no início do mês, para atender ao cronograma de leitura das aulas de Literatura Portuguesa. E na última aula aprendemos um pouco mais sobre Fernando Pessoa. Opa! Mas o que uma coisa tem a ver com outra? Explico. Os dois escritores ficaram muito conhecidos em sua época pela "fragmentação do ser" em suas obras, embora de maneiras diferentes. Fernando Pessoa, desejando ser muitos, dividiu-se em heterônimos, assumindo em cada um, história e personalidade próprias. Já o Sá-Carneiro, projetou-se em outro, em "ser o outro". E isso é bem visível nessa obra, que provoca no leitor as sensações e impressões vividas pelo protagonista.

O livro é narrado em primeira pessoa e conta a história de Lúcio, que como o título diz, nos deixa uma confissão. E ela se dá após ele ser condenado e preso por dez anos, por assassinato! Lúcio foi acusado de assassinar o poeta e seu melhor amigo, Ricardo de Loureiro e, depois de cumprir sua pena, decide defender-se e relatar os acontecidos. Então, na medida que ele descreve seus sentimentos é que vai revelando os acontecimentos externos que os envolveram, tornando a narrativa um pouco lenta. Pequenos gestos são relatados detalhadamente, mas por outro lado, esse excesso de detalhes é que nos aproxima do protagonista e nos envolve na trama.


A impressão que eu tive ao ler foi de que Lúcio parece juntar os pedacinhos, reconstruir toda sua existência, quando triste e solitário, vai minunciando os fatos sob a sua perspectiva. Revive tudo lentamente, desde o primeiro acontecimento, no ano de 1895 até o momento atual em 1913. Mas também há um tempo psicológico que parece tentar buscar, conforme a memória desponta, a origem dos seus problemas. Uma história para muitas sensações, eu diria!

Mario de Sá-Carneiro
Falando um pouco do autor, Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa em 19 de maio de 1890. Filho e neto de militares, teve seus primeiros anos marcados pela morte da mãe, em 1892. Passou grande parte da infância com os avós e iniciou na poesia com doze anos. Aos quinze já traduzia Victor Hugo e aos dezesseis, Goethe e Schiller. Um passo para começar a escrever.

E aí chega novamente Fernando Pessoa, que o conheceu em 1911 na Faculdade de Direito de Coimbra e tornou-se seu melhor amigo, introduzindo-o no ciclo dos modernistas. Sá-Carneiro deixou a faculdade quando foi para Paris, entregando-se à boêmia e aos espetáculos para esquecer suas crises existenciais. Não consegue adaptar-se socialmente, continua dependendo financeiramente de seu pai e nessa época, totalmente instabilizado emocionalmente, é que produz grande parte da sua obra e troca várias cartas com Fernando Pessoa, seu confidente. As crises de depressão aumentam e com elas as crises financeiras. Foi então que em 1916, ele anuncia em uma das cartas à Pessoa, a intenção de suicidar-se. E o faz, no dia 26 de abril daquele ano, em um quarto de hotel.

Mais um escritor que deixou sua marca na história da Literatura, embora tenha decidido escrever sua própria história de maneira tão trágica. 

Beijos!

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