9 de outubro de 2015

Eu li #29 - Dom Casmurro

Oieeeeeeeeeee!

Eba! Chegou a sexta! E tem feriado! E hoje tem resenha de Machado de Assis! (rs). Então, sei que muita gente está esperando essa resenha, por enquanto campeã de pedidos. Mas gente, vou confessar!!!! Li Machado de Assis aos quinze, não gostei. Reli aos trinta, não gostei. Reli agora, aos quarenta, e embora tenha conseguido analisá-lo com maior experiência... não gostei! Hahahaha!

Podem me condenar à vontade, mas não posso fingir né? Só que ao mesmo tempo que sou sincera, também sou guerreira, e me comprometo a continuar tentando. Sei da sua contribuição valiosa para a literatura brasileira e acho que já descobri onde estou pecando. Algumas pessoas me falaram que eu deveria ler outras obras do autor e acho que essa dica tem muito fundamento, porque só tentei com Dom Casmurro. Então agora tem uma outra obra e também uma coletânea de contos do autor, que me foram indicados. Logo falarei deles por aqui! =)

Meu exemplar é esse aqui, uma edição de 1971 de capa linda, que pertencia a minha irmã.
Bom, uma coisa de cada vez, hoje então vamos falar de Dom Casmurro, ou de Bentinho. E sua amada Capitu. Na verdade eu poderia colocar tantas interpretações, opiniões e polêmicas sobre essa história, que dariam três postagens sobre o assunto. Como dificilmente algum leitor não conheça a história, me limitarei em não falar muito sobre ela e sim sobre as interpretações. Mas resumindo exageramente, "Dom Casmurro" foi escrito por Machado de Assis e publicado em 1899.

A obra narra um romance ocorrido no século XIX. Foi embientado no Rio de Janeiro do Segundo Império, época após a independência do Brasil, em que o país sofria transformações sociais e políticas. A imprensa estava sendo implantada, a cidade passava por modernizações e iniciava-se a mudança do regime escravocata para a república. E nesse contexto Dom Casmurro nos conta sua vida.

Retrato do Rio de Janeiro, alguns anos após a publicação de "Dom Casmurro" - via wikipedia

O livro é narrado em primeira pessoa, pelo próprio Dom Casmurro, cujo nome verdadeiro era Bentinho. Após conhecer o amor na infância, Bentinho precisou abandoná-lo para cumprir uma promesa de sua mãe e tornar-se padre. Anos depois, livra-se do compromisso e casa-se com a tão sonhada Capitu. Mas o nascimento do filho Ezequiel interrompe a felicidade do casal, quando Bentinho desconfia da possibilidade do menino ser filho de Escobar, seu melhor amigo do seminário e que torna-se marido de Sancha, melhor amiga de Capitu.

Basicamente é isso! Machado de Assis tinha um estilo próprio de escrever e é comum encontrar na sua obra (dizem que em quase todas, ainda vou saber), ironias e características pessimistas. Nessa em particular, identifiquei o tempo todo suas denúncias, em alguns trechos, das hipocrisias da época, refletidas nos sentimentos contraditórios e complexos dos personagens. Ele faz questão de mostrar o lado bom e ruim de cada um deles e penetra nas suas consciências, enfatizando seus medos e suas fraquezas como o medo, egoísmo, vaidade e dissimulação.

Tipica cena familiar carioca em meados de 1891, pintada por Almeida Junior para a família Adolfo Augusto Pinto.
Conta-se que na época da publicação o romance foi interpretado como uma situação inquestionável de adultério. Mas com o tempo as opiniões se diversificaram e algumas interpretações sugeriram outras possibilidades, como por exemplo, uma demonstração de ciúme obsessivo causando hipóteses imaginárias. É fácil saber porque a dúvida da traição é o foco da obra até os dias atuais. Como o narrador é o próprio Bentinho, protagonista da história e vítima da "possível" traição, todo o enredo é uma lembrança do personagem sobre a sua vida. Mas a gente nota que ele é um narrador problemático, uma pessoa instável e amarga que, inclusive agora mais velho, torna-se solitário. E essas características podem muito bem fazer de suas afirmações, produtos da imaginação.

"Dom Casmurro" já recebeu várias adaptações em quadrinhos.
Além de várias adaptações para os quadrinhos, "Dom Casmurro" também teve interpretações televisivas. Uma das mais atuais é a minissérie "Capitu", exibida em cinco capítulos pela Rede Globo em 2008. Foi dirigida por Luiz Fernando Carvalho e representou uma homenagem ao centenário da morte do escritor Machado de Assis. Eu assisti no mês passado (estão vendo como estou tentando? rs) e achei muito bem feita. Não vou dizer que amei porque se não gosto do enredo da história escrita ,não tem como amar as interpretações né? Mas achei legal a criatividade do diretor. A adaptação também foi narrada em primeira pessoa e achei bem fiel ao livro. Composta por um dualismo entre o antigo e o moderno, junta teatro, ópera e artes circences, tentando mostrar que não existem limites para o tempo e o espaço. Até na vinheta de abertura, feita com o recurso de stopmotion, onde páginas amassadas e rasgadas de livros e revistas que se mesclam entre o novo e o velho, dá para notar a representação da complexidade da história e dos personagens. Vale a pena conferir! Aliás, essa cena abaixo foi a minha preferida. A sacada de representar a cena de Bentinho e Capitu no portão, com esse efeito de desenho com giz no chão, na minha opinião foi genial!

Cena da minissérie "Capitu", dirigida por Luiz Fernando Carvalho e exibida em 2008 na Rede Globo.
Pois é gente. Comenta-se e escreve-se sobre "Dom Casmurro" e a verdade para mim é uma. Embora a história tenha deixado seu legado como uma das grandes obras de Machado de Assis, por seu olhar critico para a sociedade brasileira da época e abordagem de temas íntimos como ciúme e culpa (e isso não é pouca coisa!!), no final das contas deixou foi uma discussão interminável para os leitores: Capitu traiu ou não seu marido Bentinho?

Eu, baseada na leitura e releitura da obra, mais o acompanhamento da minissérie, tenho a dizer que vi em Bentinho um homem calado, que não tinha diálogo com a esposa e que esse aspecto da sua personalidade poderia sim ter ocasionado conclusões infundadas sobre a traição. E digo mais, já que não houve confiança de sua parte, duvido inclusive do seu amor por ela, pois a acusa sem provas e sem ouvir sua defesa. Mas - contudo - todavia - entretanto (rs), também acho que desde a infância, Capitu tem seu lado dissimulado, mente bem e age com naturalidade manipulando Bentinho em algumas situações. Assim como acredito que é a vida real, cada lado tem sua verdade. E por isso, reforçando o que escrevi no parágrafo anterior, sim! Eu sou uma das leitoras que ficará com essa dúvida eterna em torno do enredo de "Dom Casmurro". 

No final das contas, viva a literatura! Que nos faz duvidar, questionar, refletir!

Beijos!

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