19 de julho de 2021

EU LI: O Primo Basílio (Eça de Queirós)

Oi gente!

Nosso processo de mudança está quase lá! Estamos no auge das reformas e se tudo der certo, mais uns quinze dias estamos mudando em definitivo. Mas agora é a fase mais trabalhosa, correrias mil e tá bem difícil gravar vídeo. Então, decidi deixar aqui no blog as minhas impressões da leitura de junho do nosso grupo com o Carlos do canal Livros &Ebooks: O PRIMO BASÍLIO de Eça de Queirós.


Acho legal comentar que a escolha do livro foi uma consequência da leitura de maio, que foi Madame Bovary do Flaubert e tem vídeo no canal. Quando comentado no grupo que a literatura de Flaubert foi inspiração para muitos escritores, inclusive para o Eça escrever "O Primo Basílio", batemos o martelo com o intuito de não só conhecer a história, mas comparar as obras e identificar paralelos entre uma e outra. Isso porque o tema central das duas obras foca foi um tema bem comum na chamada vanguarda realista: o adultério. 

Publicado pela primeira vez em 1878, "O Primo Basílio" é ambientado na sociedade urbana de Lisboa e percebe-se um intuito muito grande do autor em criticar o romantismo e analisar a moral da classe burguesa em Portugal na época. Além de  "Madame Bovary", o romance português também dialoga com o russo "Anna Karenina" e o brasileiro "Dom Casmurro", cujo autor aliás, nosso grande Machado, era crítico ferrenho da obra de Eça. Mas isso dá "pano prá manga" e seria assunto para outro post.

Em resumo e sem spoilers, a história mostra um lar aparentemente feliz, onde vivem Jorge e Luísa. Jorge é um engenheiro e marido dedicado, enquanto Luísa é uma vítima de fantasias românticas (como Bovary). Essa alienação da realidade a leva ao adultério, enxergando em seu primo Basílio a realização dos seus sonhos românticos. Já Basílio, que é irresponsável e conquistador, aproveita-se da situação e exerce tamanho poder em Luísa, que a torna incapaz de discernir seus valores morais. Inconsequente e apaixonada, durante uma viagem de Jorge a trabalho, ela se rende aos encantos do primo. Nessa apresentação de personagens e início da história notei um paralelo de Jorge com Charles Bovary, no sentido de ser acomodado, quando Luísa lamenta não poder viajar ou conhecer lugares porque "o marido era tão caseiro", e Eça aproveita para alfinetar sua gente completando a fala de Luísa: "...tão lisboeta"!

Temos outros dois personagens importantes na história: Juliana e Sebastião. Juliana é empregada doméstica da casa e não se entende com Luísa de jeito nenhum. Luísa é impositiva o tempo todo, alimentando em Juliana, que já se apresenta com caráter duvidoso, o desejo de vingança. Já Sebastião é amigo de Jorge desde criança, com laços fraternos e indissolúveis. Conformado por seus planos de ser sócio de Sebastião terem minguado, agora atua como um sombra do casal, ajudando Jorge nos agrados com a esposa. Além dos personagens centrais, temos também a beata Dona Felicidade, o fofoqueiro Senhor Paula, o empregado Julião e Castro, que tem uma paixão platônica pela Luísa. 


Em meio aos personagens e enredo, temos uma Juliana frustrada com sua vida solitária, que canaliza sua raiva em Luísa pelos maus tratos e abraça a oportunidade de vingar-se e beneficiar-se com os segredos que descobre. O final do livro remete ao que deveria ser o final para os padrões da época, mas muito triste, como em Madame Bovary. Enfim, era o que eu esperava levando em conta o autor, época e escola literária. Gostei da leitura, exceto pelo que me irritou um pouco, o excesso de diminutivos utilizados pelo autor ao se referir às características, ações ou sentimentos de Luisa (pensamentozinhos, pezinhos, rendazinhas do vestido...), ou descrição de locais (canteirinhos, terraçozinho), mas imagino que foi proposital.


"O Primo Basílio" foi adaptado para o cinema e televisão. A Globo lançou a sua versão em 1988, escrita por Gilberto Braga e dirigida por Daniel Filho, que também assinou a adaptação de 2007. Há também uma versão portuguesa dirigida por Antônio Lopes Ribeiro e recentemente, o ator londrino Ben Kingsley anunciou que a sua produtora, a Lavender Productions, em parceria com a Nevision, faria uma adaptação televisiva para o romance reconhecido mundialmente. A obra já está em domínio público e pode ser acessada por esse link aqui


Boa leitura!

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