Oi gente!
Como não consigo gravar vídeos de todas as leituras que gostaria, deixo algumas impressões aqui pelo blog. E a leitura que venho contar hoje foi bem especial! Minha segunda experiência com o escritor Kurt Vonnegut (a primeira foi Matadouro 5) também não deixou a desejar. Uma distopia de qualidade que deveria ser citada junto com outras distopias famosas: Piano Mecânico.
Decidi ler "Piano Mecânico" para me inspirar a escrever meu conto para a coletânea "Tempo de Robôs", meu trabalho atual de publicação, terceiro volume da coleção "Tempo", que organizo junto com os colegas Valter Cardoso e Rafael Duarte. Mas minha experiência de leitura foi muito além da inspiração para escrever. "Piano Mecânico" é um livro intrigante, com uma trama bem elaborada e um desfecho bem reflexivo.
A história se passa após uma Terceira Guerra Mundial, num contexto em que as máquinas venceram os homens e a sociedade vive em um sistema no qual é a capacidade intelectual que diferencia as pessoas. Humanos de QI mais alto, mais propriamente os engenheiros e os gerentes, como são descritos no livro, são privilegiados e moram no lado rico da cidade. Paul Proteus é um desses engenheiros, o mais importante e inteligente das Indústrias Illium. Mas após receber a visita do amigo Ed Finnerty, passa a perceber as injustiças sociais em seu meio.
Isso porque as pessoas com capacidade intelectual menor foram substituídas pelas máquinas e moram do outro lado da cidade, após uma ponte que a divide. A situação lá é bem diferente e a situação totalmente desigual. Ao atravessar o rio com Ed, Paul reconhece a realidade dos excluídos e começa a questionar o sistema, mesmo sabendo que ir contra ele poderá lhe gerar complicações muito graves. Paul é casado e na sociedade em que vive, as mulheres se beneficiam da posição hierárquica do marido, então nessa virada seu casamento também é colocado em risco. Chega o momento de Paul fazer escolhas.
Em paralelo à jornada de Paul, há outra narrativa que aparece em alguns capítulos. Conhecemos um xá que visita a cidade e espanta-se com a forma como é organizada. Tece comentários comuns em seu país, que para eles beirava o absurdo, fazendo o leitor refletir e construir comparativos. Em um determinado ponto da história as duas narrativas se conectam.
A história entrega ao leitor muitos críticas sociais e é interessante o fato de uma obra que foi publicada em 1952 se mostrar tão atual. Um tema tão abordado em nossa sociedade que é a substituição do trabalho humano por máquinas e o medo de que as pessoas se tornem dispensáveis. Em "Piano Mecânico", a sociedade era muito organizada, não existia fome nem falta de atendimento médico, mas ainda assim a desigualdade social era grande, atingindo outros fatores da vivência humana. Isso porque essa questão aborda muitos fatores comportamentais, na minha opinião. Mais do que uma simples leitura, "Piano Mecânico" é um livro para debates e reflexões.
Boa leitura!
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