22 de setembro de 2016

Eu li #86 - São Bernardo

Oi gente!

Depois de ler "Vidas Secas" no ano passado, coloquei outra famosa obra de Graciliano Ramos nas metas desse ano: São Bernardo. Graciliano fez parte da geração que marcou a segunda fase do Modernismo no Brasil, onde o regionalismo tomou o lugar do parnasianismo, que priorizava a formalidade. Então, com o mesmo estilo seco e direto, assim como em Vidas Secas, essa história também é marcada por sofrimentos e a necessidade de vencer obstáculos pela sobrevivência. A grande diferença é que Vidas Secas tem sua ambientação no sertão e São Bernardo se passa na vida urbana. Uma história breve e bem objetiva, de um homem humilde que acaba se tornando fazendeiro e busca uma esposa. Porém, seu objetivo com o casamento era acumular riquezas e não amar.


O protagonista da obra, Paulo Honório, que também é o narrador, é um homem fechado e hostil, que apenas se aproxima das pessoas por interesse próprio. O típico empreendedor obstinado, que deseja fazer fortuna sem importar-se com suas ações e a quem elas influenciam. O cara é espertão, manipulador e egoísta. Ah, e não aceita perder. Deu para perceber que não gostei nem um pouco dele né? Mas ainda esqueci de uma característica. Ele é ingrato. 

Bom, um certo dia ele arruma uma esposa, a Madalena. Que era totalmente o aposto, encantando todos com quem convivia e esbanjando carisma e boa vontade. O contraste era tanto que Paulo Honório "pirou". Foi um total choque de realidade que o levou a ações absurdas e impiedosas. E aí é que entra a maestria de Graciliano. Em descrever tudo isso e trazer à tona tantas reflexões, fazendo-me gostar do livro, ao contrário de muitos leitores. Porque no final das contas, percebi que Paulo Honório percebeu na esposa tudo que ele não era. E o autor, ao explorar esse conflito, foi perfeito! A leitura em si, de modo geral, é um pouco arrastada, mas o livro é breve e as reflexões que ele traz com relação ao amor e dinheiro, compensam muito.


Algumas pessoas comparam "São Bernardo" com "Dom Casmurro", de Machado de Assis. Acho que a rudeza do personagem até lembra (o ciúme doentio também!). Mas eu confesso que não consegui ler "Dom Casmurro" com a mesma boa vontade que li esse. Acho que a escrita de Graciliano é enxuta, não enrola o leitor, é eficaz e por isso me agrada mais. Recomendo!

Beijos!

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