25 de junho de 2019

EU LI: Incidente em Antares (Érico Veríssimo)

Oi gente!

Quando "Incidente em Antares" foi sorteado para o meu desencalha do mês, eu fiquei tão feliz! Há tempos queria fazer essa leitura, mas acabava deixando de lado. Tenho uma edição antiga da Editora Globo e a única leitura que tinha feito do Érico Veríssimo foi "Olhai os lírios do campo", que confesso, não lembro de nada! Só lembro que foi uma leitura que me marcou muito na época.


Já de início lembrei muito de Macondo, a cidade fictícia de Gabriel García Márquez em seu clássico "Cem anos de solidão". Assim como Macondo, a cidade gaúcha de Antares, situada na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, é palco de estranhos acontecimentos, misturados com fatos históricos que o autor insere magistralmente na história. O ano é 1963, meses antes do Golpe Militar e a primeira parte do livro traz todo esse resgate histórico de questões políticas nacionais que influenciaram a cidade, além de abordar questões atemporais como racismo, por exemplo. Também apresenta a origem da cidade, marcada pela disputa de terras entre duas famílias rivais, os Campolargos e os Vacarianos.

Já a segunda parte vai contar sobre o incidente que dá nome ao livro, um fato estranho que acontece em uma sexta 13, em meio a uma greve geral dos trabalhadores. Sete pessoas da cidade falecem por motivos variados, mas nos cortejos descobrem que os coveiros também aderiram à greve. Os defuntos são abandonados na porta do cemitério, para aguardarem o final da greve, o que não acontece, pois resolvem levantar e "tocar o horror" pela cidade, em todos os sentidos. Os mortos não só assustam as pessoas como resolvem "lavar roupa suja", expondo a intimidade de vários cidadãos.

Cena da minissérie "Incidente em Antares", transmitida pela Rede Globo em 1994.

Gostei muito da segunda parte, pela mistura que autor desenvolve entre o realismo fantástico, porém inserido em nossa própria realidade. Me chamou a atenção a reflexão sobre o "cair das máscaras", sinalizando que depois da morte nada mais temos a esconder. Sobre a temática política, certamente eu teria gostado muito mais se fosse uma pessoa mais atuante nesse âmbito, mesmo assim recomendo muito a leitura, dado o nosso momento político no país. Utilizando-se da ficção, o autor denuncia extremismos e absurdos que são feitos em nome de um ideal, seja ele de qualquer lado.

Achei a primeira parte um pouco cansativa, mas admito que é necessária para o entendimento da história. Faz toda a diferença, enquanto leitura da segunda parte, sabermos qual é o contexto em que o sociedade estava inserida e quais os motivos levaram à greve. Os personagens são bem construídos e fiquei me perguntando como o autor conseguiu publicar esse livro em épocas de regime militar. Bom, ainda bem que conseguiu! Certamente um clássico da literatura brasileira!

Boa leitura!

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