15 de março de 2016

Eu li #54 - Auto da Barca do Inferno

Oi gente!

Hoje vou falar de uma das metas de leitura para a faculdade, matéria de Literatura Portuguesa que terei nesse semestre. Vem muita coisa por aí! Camões, Fernando Pessoa, José Saramago, entre outros. Mas hoje iniciamos com Gil Vicente, o primeiro dramaturgo da língua portuguesa, com sua peça "Auto da Barca do Inferno", encenado pela primeira vez em 1517. A história de treze personagens que falecem e chegam a um rio, onde encontram duas barcas: a Barca do Inferno, comandada pelo diabo e um companheiro, e a Barca da Glória, comandada por um anjo. Antes de contar sobre o tema, para quem não sabe o significado de "auto", é uma peça teatral com temática religiosa.


O livro é pequeno, em torno de 50 páginas, mas como foi escrito no século XVI, é totalmente diferente do que estamos acostumados em relação ao vocabulário e linguística. Então a leitura não flui facilmente e não prende. Mas é legal perceber que a história é uma sátira à sociedade de Lisboa daquela época. Cada personagem ao chegar, avista primeiro a Barca do Inferno e inicia um diálogo com o diabo. Este, que conhece muito bem cada um deles, age com ironia e sarcasmo, se portando como um juiz e expondo seus fracassos e erros durante a vida. Com vários argumentos, insiste para que entrem na sua barca, mas todos resistem e vários tentam entrar na Barca da Glória e são proibidos pelo anjo. Só alguns salvam-se.


Ilustração para o livro do Sistema Educar por Douglas Docelino 

É durante esses diálogos, tentativas e julgamentos que as críticas à sociedade ficam explícitas, principalmente quando o anjo explica os motivos pelos quais não podem entrar na barca. Alguns personagens se arrependem do que fizeram em vida, mas a maioria sequer chega a ter consciência disso e retornam, digamos que "com o rabinho entre as pernas" (rs), para a Barca do Inferno. Um Fidalgo (representando a nobreza), um Onzeneiro (agiota), um Parvo (representante do povo), um Sapateiro (representando o mestre dos ofícios), um Frade (representando os maus sacerdotes), uma Cafetina (representando a degradação moral), um Judeu (considerados na época infiéis pois não seguiam a fé cristã), um Procurador (representando a burocracia jurídica), um Enforcado (representando a perdição) e quatro Cavaleiros (representando as Cruzadas). Gil Vicente usa os personagens para criticar a avareza, a soberda, a fofoca, a maldade, a falta de fé e outras características que condenava na sociedade portuguesa. Pelo que percebi, mas maiores críticas vão para a nobreza, o clero e a exploração do povo pelo próprio povo (mestre de ofícios).

Ilustração da edição original do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente.

Basicamente é isso. Difícil resenhar apenas, porque os desfechos são meio previsíveis né? É uma leitura bacana para se adentrar um pouco na história, imaginar como era a arte como entretenimento na época e que tipo de mensagens eram transmitidas através dela. O "Auto da Barca do Inferno" foi escrito em um contexto histórico praticamente catolicista (Gil Vicente era católico), então obviamente ele acredita que a vida terrena deveria ser guiada pelos preceitos religiosos dele. Mas só para atiçar a curiosidade deixo um spoiler: o Frade, por exemplo, foi para o inferno! Tá, não é tão previsível assim (rs). Mas embora tenha sentido religioso, não é um livro pesado, eu diria que é irônico e engraçado.

Beijos!

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