Oi gente!
Comentei no meu último vídeo sobre as melhores leituras de 2021, que lendo "A Besta Humana" de Emile Zolá, lembrei muito de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos. Zolá no seu livro humaniza a locomotiva e animaliza as pessoas, similar ao que Graciliano faz com a cadela Baleia, que aliás me cativou muito quando li. Bom, como não tinha deixado minha opinião sobre esse clássico nacional, nem aqui nem no canal, resolvi registrar minhas impressões sobre essa leitura que fiz lá por meados de 2016.
Graciliano Ramos (1892 –
1953) é conhecido pela sua literatura riquíssima em vocabulários nordestinos e
“Vidas Secas”, uma das obras mais significativas do autor, foi escrita entre
1937 e 1938 e retrata uma situação muito fiel ao povo nordestino: a seca. A
narrativa em terceira pessoa mostra o ponto de vista de cada personagem no
decorrer do livro, explorando não só os cenários externos, mas também os seus
conflitos psicológicos.
O drama é de uma família
sertaneja, cuja rotina de vida é vagar procurando terra fértil que permita sua
ocupação temporária. Um livro que me fez acompanhar o sofrimento de uma família
oprimida pelo sistema, buscando sobreviver à seca que assola o sertão. Composto
por 13 capítulos, a maestria da escrita de Graciliano se fez presente quando
reparei que o autor nos dá a liberdade de lermos em qualquer ordem, porque cada
capítulo dá voz a um personagem e tem seu enredo próprio. Porém, ao terminar o
livro percebi que, embora os capítulos sejam independentes, existe uma forte
ligação entre o início e fim da história, que perde a força se lidos em separado.
Nos primeiros parágrafos do
livro, Graciliano nos descreve o cenário e apresenta os personagens. Para
depois nos fazer perceber que cada membro da família, do seu jeito, possui
sonhos e anseios. Fabiano (o pai), Sinhá Vitória (a mãe), os dois meninos e
Baleia, a cachorra, que de tão solidária, é inevitavelmente humanizada pelos
leitores.
Essa humanização de Baleia,
a propósito, me chamou muito a atenção no livro. Os personagens, embora dotados
de sentimentos, mostram-se brutos, sem dar-se a diálogos ou manifestações de
relacionamento humano. Já a Baleia, com gestos e olhares, descreve com detalhes
a realidade da família, sem deixar de lado seus sonhos particulares. Difícil
não se encantar com a Baleia. Observadora e sensível, destaca-se no livro até
mais que os próprios meninos, que são chamados de “mais novo” e “mais velho”,
simbolizando pela ausência dos nomes toda uma identidade das vítimas do descaso
social.
Fabiano e sua família
enfrentam, além dos males externos como a seca, a fome, a exclusão e injustiça,
também seus conflitos internos. Muito do interior dos personagens é explorado.
Em cada capítulo, adentrei em suas percepções individuais, como se me sentisse
parte daquela família. A profundidade da escrita me levou a construir a
sequência de vida de cada personagem, ao mesmo tempo que me fez desenhar um
cenário geral da luta pela sobrevivência com a seca no Nordeste.
"Vidas Secas" nos
obriga a refletir sobre o "ter" e o "ser". Sobre nossos
costumes, nossas facilidades, nossa comodidade. E com isso nos leva a reflexões
mais profundas, como nossa falta de coragem em soltar as amarras que nos
aprisionam. Nos leva a perceber uma realidade tão distante, conduzindo-nos a
nos imaginar dentro dela. E se? Como seria?
Graciliano Ramos fez de
"Vidas Secas" uma das maiores críticas regionais na época e com isso,
tornou-se um dos mais importantes autores da segunda fase modernista.
Eu, se fosse você que ainda não leu, leria para ontem.
Boa leitura!
1 comentários:
Faz algum tempo que li esse espetáculo de livro - doce, poético, doloroso. Uma obra de maestria sem igual. Graça, sem dúvida, é uma das (muitas) joias da nossa riquíssima Literatura!
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