6 de março de 2021

Defesas da Poesia (Sir Philip Sidney & Percy Bysshe Shelley)

Oi gente!

Hoje trago mais uma aula da matéria do mestrado que estava em minhas anotações. Estudamos a obra "Defesas da Poesia", publicada em 1585 e que contém dois ensaios dos autores Sir Philip Sidney e Percy Bysshe Shelley (sim, o esposo da nossa queridinha Mary Shelley, autora de Frankestein!). 

Com cerca de 240 anos de intervalo, duas clássicas "Defesas da Poesia": a de sir Philip Sidney (1554-1586) e a de Percy Shelley (1792-1822) empenharam-se em responder ao famoso anátema de Platão. A editora Iluminuras, em colaboração com a FAPESP, reúne os dois textos num único volume, com tradução de Enid Abreu Dobránszky, que também assina um extenso, erudito e importante ensaio introdutório.

Na aula focamos no primeiro ensaio, cujo contexto histórico e autor eu descrevo abaixo.


Foi no reinado de Elizabeth I que surgiram na Inglaterra vários escritores que deixaram seu nome na história da literatura, entre eles Shakespeare e Ben Johson. Entre eles, embora longe das ruas e teatros pois vivia na corte, estava Sir Philip Sidney, um jovem poeta aristocrata e sobrinho de Sir Robert Dudley, um dos pretendentes à mão da rainha. Sidney nasceu em Kent, em 1554 e em 1572 viajou para a França com a embaixada que negociaria o casamento entre Elizabeth I e o Duque D'Alençon. Percorreu a Europa por vários anos, passando pela Alemanha, Itália, Polônia e Áustria e conhecendo intelectuais e políticos da época.

Em suas andanças, Sidney se incomodou com acusações feitas por puritanos, de que a poesia incitava à imoralidade, e em resposta, escreveu "Defence of Poetry", que dois séculos mais tarde, Shelley usava como inspiração para escrever sua defesa também, agora para responder a acusações de irrelevância da literatura dentro de uma era de progressos científicos. Hoje, os ensaios publicados postumamente adquiriram grande importância nos estudos da língua inglesa e na crítica literária ocidental.

Voltando à Sidney e sua defesa, cujo texto insiste no caráter edificante da poesia, o autor usa de vários argumentos e considera que os historiadores estão presos ao que aconteceu, enquanto que os poetas imaginam o que vai acontecer. Para ele poesia é a "arte da imitação" da natureza. Na época, para os classicistas, "imitar" (inclusive um autor) era um grande valor, diferente de hoje que beira a ofensa. 

"A poesia é, pois, uma arte de imitação, uma vez que Aristóteles a define pela palavra "mímeses", isto é, uma representação, uma simulação, ou figuração - para falar metaforicamente, uma imagem eloquente -cuja finalidade é ensinar e dar prazer". (Página 98) 

No texto Sidney parece que não querer banalizar a literatura, sequer se colocando como poeta. Embora defenda a poesia, a defende para os sábios. Segundo ele, o poeta é um "filósofo popular", ou seja, chega às massas. Em Poética, de Aristóteles, não havia espaço para a liberdade de escrita. Ex.: Quero falar de tragédia preciso falar dos nobres. Se quero falar das classes baixas, preciso escrever comédia. Havia regras, que só se extinguiram com o romancismo. Sidney atuou antes de Shakespeare, que inclusive teve muitos problemas com os neoclassicistas por chegar a misturar comédia com tragédia. Segundo ele, o poeta inspira ao que é valor, princípios, verdade. Ex.: Hércules, Áquiles, Enéas.

"...nem serdes mortos pelos encantamentos da poesia, ... ainda assim vos envio esta maldição, em nome de todos os poetas: que enquanto viverdes apaixonados e nunca sereis correspondidos porque vos faltará o talento para compor um soneto e quando morrerdes, ... vossa memória será varrida da terra por falta de um epitáfio".

Sidney tornou-se um dos mais importantes poetas do Reino Unido, chegando a conhecer Giordano Bruno em 1584, que a ele dedicou dois livros. Como protestante, participou de várias batalhas contra tropas espanholas e holandesas, até que em 1586, na Batalha de Zutphen, foi atingido e faleceu vinte e seus dias depois. 

O texto de Sidney nos traz uma análise da literatura da época e do quanto esforço houve para rebater os que a consideravam mentirosa e fútil. Talvez hoje tenhamos nos distanciado muito do puritanismo e do espírito de cobrança política a que esses dois textos, cada qual com o vocabulário próprio de seu tempo, procuram responder. Mas é interessante acompanhar os movimentos e como a literatura mudou sua forma ao longo dos séculos.

Boa leitura!

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