Oi gente!
Mais um Divã de Escrita aqui pelo blog, porque ainda vai um tempinho para os vídeos voltarem no canal. Ainda estamos nos organizando em nossa nova casa e agora que consegui deixar meu cantinho de trabalho pronto, para então colocar em dia o atraso. Mas não posso deixar o Divã parado porque continuo firme no projeto "ler contos, para melhor escrever contos", que começou no início do ano e tem como proposta uma listinha de livros de contos de autores renomados.
O livro da vez foi o incrível "As Crônicas Marcianas" de Ray Bradbury, que, para quem não lembra, é famoso por sua obra Fahrenheit 451. O livro é composto por 26 contos, unidos em ordem cronológica, em um espaço de tempo entre os anos de 1999 e 2026. O tema que perpassa toda a obra é basicamente a ida de seres humanos ao planeta Marte e um processo de colonização ocorrido lá.
Quem conta o livro é um narrador-observador e nesses vinte e sete anos, desde o início da colonização de Marte até o final, os contos são conduzidos por três grandes momentos. Os sete primeiros contos falam sobre expedições feitas até Marte e os encontros entre os homens e os marcianos. A partir do oitavo conto, a temática gira em torno da colonização de Marte e em um terceiro momento, entre os anos de 2005 e 2026, uma guerra eclode na Terra, fazendo com que, apesar da ameça de extinção do planeta, os moradores de Marte desejem voltar ao seu planeta natal.
A proposta para o Divã era ler o conto "...E a Lua Continua Brilhando". Fiz uma análise dele, mas vou manter a postagem sobre o livro como um todo, porque achei sensacional a capacidade do autor de manter um fio condutor entre eles. Porque originalmente, alguns dos contos do livro foram publicados separadamente em revistas de Ficção Científica e somente na década de 50 o autor os juntou em único livro. Ainda que sejam contos isolados, há sempre um evento sendo retomado, seja por nome de personagens ou alusão a algum acontecimento narrado em um conto anterior.
Além da melancolia como artifício na escrita de Ray Bradbury, em que como leitora captei no ressentimento da narrativa sobre o avanço do homem em Marte, há também um lirismo existente nas subjetividades da visão dos personagens. E é aí que eu entro com o conto proposto: "...E a Lua Continua Brilhando", que mostra uma expedição chegando à Marte e descobrindo que o povo Marciano foi extinto pela catapora, provavelmente contraída das expedições anteriores. No conto conhecemos o astronauta Spender, que se mostra contrário aos seus colegas de expedição após conhecer as riquezas da culta Marciana. O Capitão Wilder consegue entender os argumentos de Spender, mas a contragosto o detém, em prol do sucesso da expedição, pois Spender mata alguns colegas para defender o que restou dos Marcianos. Não temos neste conto um herói e nem um personagem principal, mas a ideia de humanidade. Outros contos relembram Spender como "louco" e outro conto seguinte retorna com o Capitão Wilder comentando sobre o ocorrido.
via mrpoecrafthyde.com |
"As Crônicas Marcianas" nos trazem personagens complexos e temas atuais, como exploração nuclear, força de trabalho, imperialismo e problemas ambientais. Além disso, os contos embora classificados como FC, transitam entre outros gêneros. Um exemplo é o conto "Usher II", que faz referência ao conto "A Casa de Usher" de Edgar Allan Poe (e foi um dos meus contos preferidos"). Há muito de filosofia nos contos também, levando em conta que a vida de milhões de Marcianos foi o preço para a permanência dos humanos no planeta. Essas reflexões profundas que permeiam todo o livro foram para mim o excelência na escrita do autor, que consegue com a narrativa explorar o peso e a dor da temática com o leitor. O autor não impõe uma moral, mas com criatividade mostra sempre os dois lados e conduz a história para questões complexas da humanidade.
É aqui que finalizo, deixando minha experiência de aprendizado com a escrita do autor nos contos deste livro. Além da exímia organização da cronologia dos contos, unindo-os em forma de romance, colocar na escrita dos seus contos todo um peso das escolhas dos humanos, que não contentes em destruir seu planeta, decidem colonizar outro para fugir de seus conflitos e sentimento de solidão. Ray Brudbury afirmou certa vez, que a união de seus contos deu origem a um romance acidental: "Os contos de Green Town que encontraram o seu caminho no romance acidental intitulado O vinho da alegria e os contos do Planeta Vermelho que se tornaram outro romance acidental chamado As crônicas marcianas, foram escritos nos mesmos anos em que eu corri para o barril de chuva do lado de fora da casa de meus avós para desafogar todas as lembranças, os mitos, as associações de palavras dos anos passados". (BRADBURY, 2011)
Isso me fez pensar como existem autores que não estão preocupados em escrever através de fórmulas propostas e estruturas pré-definidas. Que existem sim, formatos indicados para ajudar aos iniciantes, mas que a forma de narrar é intrínseca ao autor e cabe a cada um descobrir sua melhor forma. =)
Até a próxima!
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