28 de março de 2019

EU LI: A raposa já era o caçador (Herta Müller)

Oi gente!

Decidi publicar minhas impressões do livro de março do #projetonobeldeliteratura aqui no blog, acreditando que minha dificuldade com esse livro não influencie vocês de forma negativa. Isso porque a Herta é uma escritora sensacional e o livro é muito bom, portanto, minha dificuldade tem a ver com meus gostos literários e com minha inexperiência com o estilo da autora. Sabem aquela história de quem nem todo mundo consegue ler Guimarães Rosa? Pois é, eu amo Guimarães Rosa, mas com a Herta não me entendi muito bem. Dado meu ritmo particular de leitura, achei que demorei muito para concluir as 240 páginas. Mas em um contexto geral, gostei do livro. 



Herta Müller é romena e ganhou o Nobel de Literatura em 2009. Em "A raposa já era o caçador", a autora nos revela muito sobre a vida dos romenos no final dos anos 80, sob o regime totalitário de Nicolae Ceaucescu, implantador do estado comunista na Romênia entre 1965 e 1989.

São duas as personagens principais. Acompanhamos a vida da professora Adina e da operário Clara, ambas muito jovens e começando suas vidas. Moram juntas e, na narrativa, a autora relata suas rotinas, revelando as dificuldades daquela sociedade e o quanto sua segurança era vulnerável, a ponto de não confiarem nem nas pessoas mais próximas.

Adina possui um objeto que considera valioso, um tapete de pele de raposa que ganhou na infância. Esse objeto, aos poucos toma conta da história, através de acontecimentos na casa da personagem, que a faz sentir-se vigiada pelo regime. No final das contas, o tapete se torna uma metáfora do que acontece na própria vida de Adina e em sua amizade com Clara. Ao entender essa metáfora entendemos o título do livro.

A linguagem de Herta foi que me causou desconforto na leitura. Sua narrativa é fragmentada, o que me fazia perder o fia da meada em diversos momentos e precisar retornar alguns parágrafos na leitura. A autora narra a história criando uma cena completa em uma pequena frase, de modo que eu, acostumada com narrativas que correm rapidamente, precisava me concentrar muito para visualizar a cena apresentada. Mas ao conseguir, me deslumbrava, me emocionava, me revoltava, entre outras sensações difíceis de descrever.

Relatos de miséria, exploração e da influência do regime de Ceaucescu na vida daquelas pessoas, são lidos através de cenas indiretas, contados através de um formato que na minha opinião, só uma grande escritora é capaz de narrar. Um formato que exige atenção do leitor, mas que torna a leitura uma experiência incrível.

Pela temática, achei um livro perturbador, por entender nítida a crítica da autora ao totalitarismo e o quanto esse regime pode ser destrutivo, tanto para a individualidade quanto para a coletividade. O poder totalitário transforma as pessoas, destrói sonhos e coloca um ponto de interrogação no título deste livro: "A raposa já era o caçador?"

Boa leitura!

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