30 de janeiro de 2019

EU LI: Trilogia "Os Nossos Antepassados" (Ítalo Calvino)

Oi gente!

Hoje a postagem é sobre uma trilogia maravilhosa que li entre o final de 2018 e início de 2019! A trilogia de Ítalo Calvino chamada "Os Nossos Antepassados", que é composta dos livros abaixo. E já adianto, um melhor que o outro!


Ítalo Calvino foi um dos mais importantes escritores italianos do Século XX e é famoso entre os leitores pelo realismo mágico de suas obras. Na trilogia "Os Nossos Antepassados", que também possui publicação pela Companhia das Letras em um único volume, com a capa abaixo, o autor não mediu esforços para nos divertir e ao mesmo tempo, nos chocar com seus protagonistas.


"O Visconde partido ao meio" foi publicado em 1952 e é narrado pelo sobrinho do visconde Medardo di Terralba, que vai à guerra e leva um tiro de canhão. Pronto, é partido em duas partes iguais. Uma delas sobrevive após o trabalho da equipe médica e assim Medardo, meio colado e meio remendado, volta para casa incomodando a todos. Isso porque o seu lado sobrevivente era seu lado mau. Tudo parece sem salvação, quando sua outra metade resolve aparecer. Mas sua metade boa também confunde as pessoas e inclusive o leitor. Me senti julgando, analisando, avaliando cada uma das porções do nosso personagem para chegar a uma conclusão: Calvino criou um protagonista muito próximo a nós, com toda nossa incompletude. Achei que a narração por uma criança deu um tom de aventura na narrativa, deixando-a mais prazerosa.


O segundo livro chama-se "O barão nas árvores" e foi de longe o meu preferido! Publicado originalmente em 1957, a história agora é do Cosme Chuvasco de Rondó, um menino de doze anos que é primogênito do barão de Rondó. Exatamente em 15 de junho de 1767 (rs) o menino se rebela contra os pais porque não queria comer escargots e sobe às árvores, para de lá nunca mais descer. Sim, isso mesmo. Surreal? Muito! Mas é essa a grande genialidade de Calvino na minha opinião. Trazer reflexões reais com histórias surreais. Quem narra esta história é o irmão mais novo, o Biágio, que também torna a narrativa divertida. O final do livro é maravilhoso e obrigo-me a citar duas partes que achei que representam muito a maestria de Calvino com as palavras:

“As bolhas de sabão chegavam-lhe até o rosto, e ela ao respirar fazia com que estourassem, e sorria. Uma bolha chegou-lhe aos lábios e permaneceu intacta. Inclinamo-nos sobre ela. Cosme deixou cair a tigela. Estava morta”.


“Conheceram-se. Ele a conheceu e a si próprio, pois na verdade jamais soubera quem fosse. E ela o conheceu e a si própria, pois, mesmo já se conhecendo, nunca pudera se reconhecer assim”.


E então vem o terceiro livro, não menos importante mas o que ganhou meu bronze: "O cavaleiro inexistente", publicado em 1959. Agora a história é de Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, um cavaleiro que se destaca por conta da sua imponente e impecável armadura branca. E também por outro fato: o de não existir. Pois é! E quem narra sua história é uma freira, a irmã Teodora, confinada em um convento. Embora essa narradora cause surpresas ao leitor mais para o final do livro, nesse momento ela tem como penitência escrever sobre os ocorridos.

Agilulfo precisa iniciar uma aventura para recuperar sua honra e Calvino, escrevendo divinamente, nos permite imaginar sensações físicas para um ser não fisico, nos fazendo até lembrar de Sartre, que deu o pontapé no existencialismo como movimento filosófico. Muito bom!


E assim as três obras se completam, com a objetividade (a última mencionada tem apenas 136 páginas) e ao mesmo tempo os devaneios criados pela genialidade do autor. Ítalo Calvino, na minha opinião, é leitura obrigatória. Encontre o título que mais lhe atrai, e tente! Eu tenho inclusive uma postagem sobre um não ficção bem conhecido dele, "Porque ler os clássicos". Muito bom!

Boas leituras!

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